sábado, 13 de dezembro de 2008

Ao entrar aqui pela última vez, terminei com a música 'Miedo', e agora venho falar do meu atual medo.

Tem coisas na vida de que temos muito medo. Eu tenho vários. Dos menores aos maiores. Mas está latejando o medo que sempre me assusta, o medo das minhas crises convulsivas. Já tive fases da vida onde relaxei quanto a isso, e o resultado foi péssimo. Em outras épocas, me cuidei, e mesmo assim elas me assustavam. E venho de anos, onde cuido a cada segundo da minha saúde, e mesmo assim não fugi a regra da vida - nada é planejado e acontece quando menos esperamos. Minha última crise foi triste.

Triste porque desafiou o bem maior: a vida. Desafiou meus sentidos, meus passos, minha liberdade. Eu acordei de uma 'viagem' em cima de uma cama de hospital. Foram dias tristes, dias frios, dias onde a voz das enfermeiras se tornava aconchegante, ou a conversa de uma visita desafiava a realidade. Lembro da janela aberta, e o céu ao meu lado, era uma saída para as horas passarem. Mas os remédios faziam seu papel, em me dar o descanso ao longo de um mês interminável onde uma vida seria decidida na mão de uma equipe médica.

As lembranças, torpedos, emails, cartas, flores eram recebidos, mas não solucionava. Os amigos chegavam, mas a dor não passava. A família ia e vinha, e a solidão dominava. A mãe foi incondicional, mas aquela verdade era só minha. Eu estava limitada a terrível dor de não saber o dia de amanhã. Não saber se o passo seria dado. Eu esperava tanto por esse passo. Fiz planos. O Anúncio do 'dia da operação' era como o anúncio da decisão da minha vida. Eu estava nas mãos de Deus e de médicos. Bastava a mim, rezar, e permitir que o coração funcionasse.

Por que o dia anterior é sempre o mais triste? Era uma sensação de incapacidade, misturada com ansiedade e pra completar o terrível medo. Não existia remédio capaz de tirar toda a dor ocasionada por todos os sentidos. Fui dopada finalmente, já que precisavam me 'preparar'. Chegou o dia. E as imaginações passaram para o campo real.

Era uma peça, onde eu era a atriz principal. Dividi o palco com algumas marcantes pessoas. O amor de mãe, que foi essencial para encarar a realidade. A voz calma, do famoso anestesista, que consegue nos aliviar, quando acreditamos que não vamos conseguir. O médico louco, que salvou a minha vida, e por sinal, era o ator principal, neurocirurgião, a equipe composta por mais 4 pessoas, e Deus, que me deu a prova de sua existência ao longo dessa jornada.

Apaguei. Começou. No meio de tudo acordei, vozes, rostos, pressão, medo, dor, e novamente, fui apagada. Foram longas 12 horas. E acordei depois de mais 4 horas, na famosa UTI. Não sabia aonde estava, sentia frio, medo, dor, e desespero. Gritei. Médicos chegaram em mim. Gritei muito. Muita dor. Muita. Pressão abaixando, sentidos indo embora. Fraqueza. Gritos. Aparelhos. Ar. Choque. Uma santa médica chamada Adriana (eu decorei o nome) e Deus. Foi nesse exato momento, que escutei dois gritos: 'Vem Carol, volta, não podemos te perder'. E uma luz que dizia: 'Volta, sua vida'. Foram os segundos mais preciosos da minha vida. Onde eu consegui ver dois lados. Eu não sei se fui merecedora de estar aqui hoje. Mas só quem passou por isso, pode entender porque a vida é o nosso bem maior. Minha pressão tinha zerado. Os aparelhos funcionaram. A médica foi quem me salvou. A medicina colaborou. Mas Deus foi quem decidiu. Apaguei novamente. E ao acordar, estava recebendo sangue de almas generosas.

Meu primeiro passo veio depois de 7 dias - onde cai - e assim descobri que tudo iria demorar, mas eu tive a certeza que eu poderia realizar os planos que fiz ao longo de um mês de hospital. Nada foi rápido, foram 4 meses em casa. Cama, banho na cama, comida na cama, duas empregadas, vida privada, televisão, amigos, visitas, família, pena, dó, depressão, fim de namoro, retorno de namoro, dor, muita dor, interminável dor, parafusos, força, MÃE, Deus, avó, fisioterapia intensiva, médicos, remédios, hospital, cadeira de roda, muleta, telefonemas, filmes, engordar, tristeza, alegria, felicidade, primeiro tombo. E o primeiro sinal de liberdade e normalidade: ir sozinha pela primeira vez a padaria. Simples, né? Para todos nós. Só quem se priva de alguma coisa, sabe a real vitória que é, poder ir na esquina e voltar sem qualquer impedimento. Ali, eu fui como criança, rindo, rindo muito, eu dei gargalhadas, falei com todos que encontrava e conhecia, voltei chorando, emocionada, feliz, foi minha vitória. Meu prêmio!

E assim a vida continuou.. E o medo continua dentro de mim. Medo do que sempre pode acontecer, quando não podemos impedir algo que é involuntário a nossa vontade. É rezar, e torcer.

Medo. Muito medo. Sinto algo se aproximando, e não posso controlar. E só posso dividir comigo, ou com quem entende.. Medo.

Um comentário:

Amanda Vieira disse...

Resolvi voltar e ver seus primeiros posts e me deparei com esse...
Acredite: num minuto, meus olhos se encheram de lagrimas e no minuto seguinte um sorriso tomou conta da minha face!

Fico muito feliz por vc ter se recuperado! mesmo!

Parabéns pela sua força, Carol!
vc é merecedora de TUDO de bom que te acontece!

Beijos!