sexta-feira, 3 de julho de 2009

Admirar o desconhecido é como entregar um sentimento ao vento..

Quando somos apaixonados por algo, nos tornamos dependente do que nutre esta paixão. Sou apaixonada por música, e naturalmente, o nutriente para sua existência são os grandes interpretes e compositores. Por seguinte, a produção oriunda deles reflete na minha vida, reflete nos meus atos, reflete nos meus pensamentos. Uma música carrega sentimentos, a alma de um artista, características tão próprias que nos faz ser admiradores dos criadores e expositores desta criação.

Tenho ídolos que me desconhecem. Tenho ídolos que me conhecem. Mas nada muda a condição de admiradora, e de admirados. Nasci e muitos deles já eram consagrados. Cresci e continuaram consagrados. Entre releituras de gostos, tem sentimentos que se entregam a novidades, e tem os que jamais são esquecidos. Me perco entre tão lindas canções e tão grandes interpretações. Minha alma é traduzida por cifras, notas musicais.. Meus sentimentos são expostos por vozes.. É a união de uma realidade vivida por outro, com a minha. Eles jamais vão saber, mas a cada frase um pouco de mim é decifrado.

Não posso jamais entender o que se passa na cabeça dos meus ídolos quando criam canções tão inteligentes ou quando soltam a voz como se tivessem entregando a alma ao momento. Mas posso fazer minhas interpretações, e por isso, sou admiradora. Magicamente consigo trazer pro meu mundo, o que desejo, e fazer com que cada passo dado por eles, dentro da sua profissão, façam parte de mim, a palavra, a voz, a música, eleva a alma, eleva a vida.

Eu lembro do meu primeiro choque ao perder um ídolo, não musical, mas ídolo nacional, ídolo que amava ver, torcer e admirar, distante, mas sempre vendo como fonte de alegria para um povo tão sofrido. Quando Ayrton Senna morreu eu tive a sensação do que é perder o desconhecido. É chorar por alguém que jamais te viu, mas com certeza, dependia dessa grande multidão para crescer, e continuar sua vida profissional. Foi um choque, foi triste, cada momento, cada notícia. E ai foi a primeira vez que me perguntei: E quando meus ídolos musicais partirem?

No mesmo ano choques pessoais foram grandes, diria os maiores até hoje. Mas lembro o ano chegando ao fim, e mais um ídolo partindo. Era Tom Jobim, o grande mestre, aquele que até hoje faz com que meus olhos se encham de lágrimas, o responsável por canções tão inspiradoras, e o que me fez cantar por séculos: 'O samba de Maria Luiza é bonito pra chuchu, e é por isso que o Papai está apaixonado por você'. Eu era nova, mas por tanto admirar, sofri, chorei, gritei, e pensei: Quando meu próximo ídolo partir, como vai ser?

Ainda jovem, vi o sucesso crescer e curti a divertida relação do palco/música/artistas/fãs que o Mamonas Assassinas criaram. Era admirável ver a simplicidade e a criatividade que eles tinham. Não chegaram a ser ídolos, já que não deu tempo, e muito menos seu estilo me contagiava. Mas conquistaram minha adolescência, já que eles eram febre. Como esquecer do show deles? E da mesma forma que chegaram, sairam de cena. Foi chocante. Foi devastador. E ai comecei a entender a relação artista/fã, e sentir o quanto difícil é gostar do desconhecido. E continuava a me questionar: A vida continua, e isso dá medo, quais serão as próximas cenas?

O tempo passou, e veio o que eu jamais esperava, o desespero em perder quem tanto gostava. Era fim de ano, eu recebia amigos para o melhor reveillon que poderíamos ter, e não tivemos. Tínhamos certeza que iriamos estar de frente para nosso ídolo, brindando a vida e todas juntas, mas não conseguimos. Cassia Eller partiu. Mas como Cassia Eller morreu? Era inaceitável. A voz que nos representava, que gritava, que cantava meloso, que arrepiava, que irritava, e que fazia que de longe, fossemos admiradores fiéis. Ela não podia ter morrido. Mas a única certeza da vida é a morte, e mais uma vez, um ídolo meu partiu. Eu tive medo de me questionar quem Deus levaria.

Com o tempo, passamos a ter mais sensibilidade, passamos a admirar poucos ou muitos, mas uma qualidade comum, e o sangue bate pelo mesmo ritmo. Meus ídolos continuavam me fazendo feliz. Eu continuava lado a lado do desconhecido e do conhecido, com meu sentimento solitário.

Jamelão morreu. Foi assim que recebi a notícia. E foi a maior queda que pude ter. Jamelão já tinha idade, mas pra mim, Ele ainda iria viver muito. Jamelão representa meu amor pela Estação Primeira de Mangueira. Eu chamei Jamelão de vovô e achava que era intima dele quando pequena. Por Ele, sou Mangueira. Jamelão fechou meu coração por dias, meses. A tentativa de entender a sua partida, me fez ficar próxima do meu amor pela Mangueira. Mas nada é igual. Sem Jamelão o Morro é triste, os tambores se calam, e alegria não é a mesma.

Semana passada, o mundo parou. E eu parei também. Não pude acreditar que Michael Jackson, dias antes de começar uma turnê, onde todos acreditavam num "levanta, sacode a poeira e da a volta por cima", faleceu. Ele é mortal, quando todos pensavam que era imortal. Ele modificou a música mundial. Ele mudou a dança, o conceito de shows, de clipes, e porque não de composições? Michael é referência em tudo. Novamente me vi perdendo um desconhecido, mas que é meu ídolo. Foi dolorida cada notícia, cada momento, e continua sendo, enquanto a mídia continuar levando esse assunto ao topo. Michael é eterno. E ficou a dor.

E hoje, me pergunto, será melhor não ter ídolos? Assim não sofro pelo desconhecido. Mas como viver sem eles, se eles alimentam minha alma, alimentam o coração e fazem ou fizeram as coisas mais lindas que eu já pude ver. São almas que não conhecem sua própria grandeza. São pessoas que nunca vão encontrar o significado do que representam para seus fãs, jamais vão entender que o mundo pode dar mil voltas, mas o sentido fica no que foi feito, e esse feito faz com que a admiração nunca cesse. Meus ídolos estão partindo, mas eternamente, eles estão comigo, porque para seus fãs, se tornam eternos.

Ana Carolina e Milton Nascimento. Eu diria que esse momento, eu jamais quero ver. E por isso, prefiro me perder, para assim poder perdê-los...

Ser fã é um caminho solitário. Mas sabe, essa solidão é apaixonante!

3 comentários:

Carol Freitas disse...

Carol: Que texto lindo!
Não há outra palavra ou comentário a ser feito :)

Parabéns!
:*

Flávia Azevedo disse...

Carol na Boa?

Não descobri o que me emocionou mais, se foi a cerimônia de corpo presente a Michael ou o orgulho que eu tenho de ser sua amiga e poder compartilhar, não só de um texto assim, mais de um ponto de vista brilhante e despido de coisas menores.

Sem mais!

Veluma Nunes disse...

Amei o Texto. To fascinada pelo seu blog!
beijos!
=)